
1 - A sua candidatura à Câmara de Tomar significa a concretização de um
objetivo delineado há bastante tempo?
A minha candidatura à
Câmara de Tomar, significa a assunção de um percurso que considero natural. Já
passei por funções executivas e por funções legislativas e entendo que a melhor
forma de concretizar projetos, de poder fazer a diferença, de poder mudar a
vida das pessoas, é em funções em que exista maior proximidade entre quem
decide e quem é alvo dessas decisões. Assim, o trabalho numa autarquia é o que
melhor permite aplicar, aferir e eventualmente corrigir, em tempo, as decisões
tomadas.
2 - Com todo o ambiente sócio-económico que se está a viver, está preparada
para enfrentar a campanha que se prevê difícil?
Será sem dúvida uma
campanha disputada num ambiente com contornos diferentes. As pessoas vão exigir
dos candidatos respostas. Vão exigir mudança, porque está visto que este
caminho que vem sendo seguido não conduz a lugar nenhum. Não só pela conjuntura
nacional, mas também pela situação do Concelho de Tomar. Mas por isso mesmo,
entendo que deverá ser feita uma campanha diferente das anteriores. Também aqui
mudar é um objetivo importante. Eu defendo uma campanha que parta de baixo para
cima, que primeiro ouça e depois apresente soluções ou o caminho para a
resolução dos problemas. Este é mais o tempo das pessoas e das suas opiniões e
menos o tempo das certezas absolutas. Humildade para ouvir, determinação para
executar, mudando. Porque não tenhamos dúvidas, a situação que irei encontrar,
será uma situação muito difícil, e terei de ser audaz para enfrentar e resolver
todos os problemas. E só com as pessoas isso será possível! Mudarei, também aí,
a forma como se tem vivido em Tomar nos últimos 15 anos. As pessoas estão
fartas do mesmo. E eu também. Ao fim de 46 anos, acho que está na altura de dar
o meu determinado contributo para mudar a vida dos outros, para melhor, espero
eu!
3 - O que pensa que vai ser mais difícil, uma vez que as pessoas estão cada
vez mais fartas de políticos?
O mais difícil vai ser
precisamente motivar as pessoas. Quanto a mim, as pessoas estão fartas de
grandes promessas, de grandes discursos que depois resultam em nada. É preciso
sermos assertivos e falar com verdade. Mudar a forma, mudar o estilo, mudar
Tomar. Tem de haver a coragem para dizer que não podemos fazer grandes
projetos, temos de falar verdade quando afirmamos o que podemos fazer. Envolver
as pessoas neste processo é fundamental, por isso dizia há pouco que o processo
tem de ser de baixo para cima. Isto não quer dizer que não saiba, onde entendo
que o Concelho de Tomar deva estar daqui a 10 ou 20 anos, mas para aí chegarmos
tem de haver um caminho construído em conjunto.
4 - Já definiu a sua equipa? Se sim, trata-se de uma equipa renovada?
A equipa não está formada.
Não seria sério da minha parte ter uma equipa feita, antes de ter falado com
todas as forças partidárias, tal como anunciei no dia 24 de novembro. E isso,
tal como me comprometi, será feito até ao final de Janeiro.
5
- No caso de vencer, está preparada para gerir uma câmara com bastantes
dificuldades?
O Município de Tomar tem
efetivamente bastantes problemas, não só a nível financeiro, mas também a
outros níveis, nomeadamente organizacionais e de posicionamento estratégico. A
tarefa de gerir em situações adversas não é fácil. Julgo estar preparada para o
fazer, por formação pessoal e por experiência profissional e política. Ao
contrário do que sucedeu nos últimos anos, Tomar não terá, previsivelmente, a possibilidade de
acesso a tantos fundos comunitários e portanto o Município terá de ser criativo
na busca de soluções. Na área financeira existem outros caminhos, que são
inovadores, alguns em parceria com instituições financeiras, outros através de
parcerias com a sociedade civil, que merecem ser avaliados.
O meu primeiro empenho
virá a ser neste dossier: não podemos continuar a fugir dos problemas
financeiros do Município, sob pena de poder ficar em causa, quer o serviço
público aos cidadãos, quer a própria sustentabilidade do emprego no Município. As
pessoas, cada um dos trabalhadores da autarquia por um lado, cada cidadão que
aqui vive ou trabalha por outro, serão sempre o centro da minha atuação. Foi
assim que fiz, durante quatro anos, enquanto Diretora do Centro de Emprego de
Tomar, e é assim, só assim, que sei trabalhar. Do ponto de vista
organizacional, existe um conjunto de práticas de relacionamento com o cidadão
que estão disponíveis e ainda não foram aproveitadas. E finalmente no plano do posicionamento
estratégico, não basta termos em Tomar a sede de um qualquer organismo, temos
de saber onde nos integramos e para onde queremos ir.
6
– O facto de ser mulher é encarado como vantagem ou desvantagem, numa terra
ainda, eventualmente, conservadora?
Estamos no século XXI e
num dos trinta países mais desenvolvidos do mundo. Reconheço no entanto, que
ser mulher, que introduz um fator diferenciador, porque existe uma forma
de estar e de fazer, diferente entre homens e mulheres. As principais
qualidades que entendo que um político deve ter são: a capacidade de ouvir,
provocar compromissos, decidir em tempo útil. Considero que por vezes uma não
decisão, tem mais custos que uma má decisão. Se são características só de
mulheres, penso que não, mas sei que tenho essas características. Também aqui
faz sentido mudar, sendo esta a aposta que o PS fez, ao apoiar a minha
candidatura.
7
– Falou recentemente que o PS estaria disponível para um consenso com todas as
forças partidárias (à excepção do PSD). Este consenso pode ser visto como uma
abertura a uma possível coligação?
É claramente uma abertura
a todos quantos queiram contribuir, quer com o seu conhecimento, quer com o seu
trabalho, para melhorar o nosso Concelho. Agora se assume a forma de coligação
ou outra, isso está ainda em aberto, porque como já disse, estou até ao final
do mês de Janeiro a falar com todos. Uma coligação pré-eleitoral, dado o estado
em que o PSD vai deixar o Concelho em 2013, seria útil e clarificadora. Precisamos
em Tomar de compromisso e de trabalho conjunto, sem exclusão de ninguém. A
atual situação exige, de todos, esse esforço e eu continuarei a fazê-lo.
8
– Não bastou a experiência da coligação com o PSD? Voltaria o PS a repetir?
Com o PSD houve, em 2010 e
2011, um acordo de partilha de poder, baseado em pressupostos que não se tendo
concretizado, levaram o PS a terminá-lo. Quando foi feito, após as eleições de
2009, resultou de uma leitura honesta e responsável que o PS fez da realidade
local. Fazer parte da solução e não do problema, foi na altura assumido.
Continua a ser essa a minha postura.
Em Portugal não estamos
muito habituados a coligações pré-eleitorais. Mudar o paradigma, também aqui
seria, quanto a mim, muito positivo. Entende-se que uma coligação é junção de
partes, quando eu entendo que é mais do que isso. Existem partes, muitas das
vezes com abordagens diferentes de resolução dos problemas, mas a arte, se me
permite, está precisamente em criar compromissos, porque o objetivo ultimo, é
sempre a resolução dos problemas e a criação de oportunidades.
9
- Como carateriza os últimos 15 anos de governação em Tomar?
Como um desperdício. Um
desperdício de oportunidades. Não nos podemos esquecer que nos últimos 15 anos,
foram anos em que Tomar teve acesso a substanciais fundos comunitários, alguns
nem sequer foram utilizados e outros desperdiçados. Foram feitas obras, muitas
delas discutíveis, as quais se transformam mais num custo do que num
investimento. Ficou por concretizar um novo Mercado Municipal, a recuperação do
Flecheiro, a recuperação de muitas das estradas municipais do Concelho, das
funções económicas nas Freguesias, por exemplo. Mas não só desperdiçamos fundos
comunitários.
Não se soube também captar investimento, não se soube promover o
Concelho, não se soube aproveitar a capacidade instalada, quer a nível associativo,
na cultura e no desporto, quer a nível de património material e imaterial.
Muito se falou e pouco se concretizou. Tomar é hoje, 15 anos passados de gestão
do PSD, um Concelho mais pobre, mais pequeno, com menos capacidade de atrair
pessoas e empresas. Nos primeiros 10 anos, entre 1997 e 2007, segundo dados do
INE, Tomar passou do 59º lugar do índice de poder de compra do País para 91º,
descendo assim 32 lugares. Foi, no Distrito de Santarém, ultrapassado por
Constância, Barquinha, Torres Novas, Alpiarça, Almeirim, Rio Maior e Cartaxo.
Se dúvidas houvesse, basta ter isto presente, para se perceber que é preciso
mudar de caminho. E é isso que pretendo e irei fazer!
10
– No seu entender, o que poderia ter sido feito e a câmara nunca avançou? E o
que poderia ter sido evitado?
Muito havia por dizer, mas
deixo só alguns exemplos. Como já disse, o primeiro trabalho deverá ser
precisamente o planeamento, faço esta obra em detrimento de outra porquê? E
quando o planeamento falha, falha tudo. O Programa Polis deixou por concretizar
o mais importante: a requalificação do Flecheiro e o novo mercado. O mercado tem sido tema recorrente quer nas
campanhas, quer em muitas das reuniões de Câmara, mas o que é certo é que nada
foi feito. Porquê demorar quase 3 anos a
cumprir uma deliberação, por unanimidade, para ir fazer esta operação de
cosmética? Tanto tempo perdido.
Mudar esta atitude, é o que os tomarenses
exigem. Estarei lá para o fazer.
Como dizia há pouco, os custos de uma não
decisão, são por vezes superiores aos custos de uma má decisão. E voltando ao
Programa Polis, ainda aguarda toda a população por saber qual a fatura que vai
pagar. Mas podemos ainda falar de outros projetos que deveriam ter avançado e
estão, digamos na gaveta, como a valorização das coleções visitáveis do Brinquedo,
dos Fósforos, do Núcleo de Arte Contemporânea, do inexistente Museu Municipal
João de Castilho, a requalificação da Várzea Grande, a dinamização do centro
histórico, a dinamização de circuitos turísticos, a candidatura da Festa dos
Tabuleiros a património imaterial da Humanidade, a gestão parcimoniosa dos
edifícios do Município, a revisão do PDM, o apoio às Associações, o
financiamento das Freguesias, só para dar alguns exemplos.

11
- Concorda com a aposta da autarquia apenas no turismo como ponto forte para o
desenvolvimento de Tomar?
Concordo que o turismo
deverá ser uma aposta forte para o desenvolvimento do Concelho, mas não deverá
ser a única vertente de desenvolvimento. Devemos diversificar a oferta e os
mercados que pretendemos atingir. Ficarmos única e exclusivamente dependentes
do turismo é redutor e perigoso. Por isso para além do turismo, defendo que é
urgente captar investimento, quer nacional quer estrangeiro, que gere postos de
trabalho. E penso que aqui o Instituto Politécnico de Tomar terá de ser um
parceiro importante. Temos cá o know-how e não o aproveitamos porquê? Tomar tem
condições para a instalação de empresas, mas precisa de fazer o trabalho de
casa, nomeadamente terminar a revisão do PDM e alterar um conjunto de regulamentos,
que entendo que funcionam como um fator de constrangimento à atividade
económica.
12
– Caso fosse eleita, quais as primeiras medidas para “voltar a dar vida” à
cidade de Tomar?
13
- Como potenciava a inserção da autarquia nos vários setores que a
Administração Central e Regional dispõe em Tomar? Referimos as estruturas
agrárias, no seu todo (agricultura, florestas, pecuária e agro alimentar), no
turismo e no desenvolvimento regional?
Tomar deve acolher e
trabalhar com todas as instituições públicas e privadas que aqui se encontram
ou se venham a instalar. Parceria e otimização de sinergias é a palavra-chave.
O Município deve liderar o caminho de Tomar, colaborando para que todas as
instituições parceiras, trabalhem para a melhoria da economia e da qualidade de
vida dos cidadãos do Concelho de Tomar.
14
- Como vê a reorganização administrativa e, no caso de Tomar, as fusões
sugeridas pela Unidade Técnica?
O Governo do PSD e do CDS,
decidiram criar um problema onde não havia nenhum. Em primeiro lugar, entendo
ser necessária uma reorganização administrativa, mas como se trata de todo um
“edifício” administrativo e legislativo, deveria ter sido abordado na sua
totalidade. Mas começou-se pelas freguesias e no caso de Tomar, as fusões, não
sugeridas mas impostas, acentuam algumas assimetrias e causam, pelo menos num
caso alguma estranheza. O PSD local nunca teve a coragem de dizer quais as Freguesias
que queria extinguir, por exemplo.
Com este modelo, acentuam-se
as assimetrias na zona rural porque estamos perante um território que não tem
uma cobertura eficaz de transporte interfreguesias, estamos perante uma
população envelhecida, que recorre aos serviços das juntas de freguesia, muitas
das vezes para tratar de assuntos que ultrapassam as competências das mesmas.
A
dificuldade de acesso a um conjunto de serviços, contrariando precisamente um
dos pilares que esteve na criação do poder local, que é a proximidade, pode
gerar assimetrias sociais. E o caso, por exemplo, da proposta de extinção das
freguesias da Beselga e Madalena, deixando Carregueiros como uma “ilha” isolada
é um perfeito disparate. É preciso não esquecer que a freguesia assim criada,
iria desde as proximidades de Alburitel até às proximidades de Santa Cita, numa
distância maior que aquela que separa a cidade de Tomar da cidade do
Entroncamento.
15
- Qual a sua posição relativamente à criação de entidades supramunicipais de
que o Governo agora fala? Não poderá estar em causa o municipalismo e a
identidade dos concelhos? Não será um contra-senso, quando por um lado se
diminuem freguesias, e num futuro próximo, municípios?
O que Portugal precisava,
neste contexto, era a “instituição em concreto das regiões administrativas”,
conforme estipula a Constituição da República Portuguesa. A maior parte das
pessoas não sabe, mas há três níveis de autarquias, designadas na Constituição:
as freguesias, os municípios e as regiões. Este último nível existe, só a nível
de organização do território, sem legitimidade democrática direta, que são por
um lado as CCDR’s e por outro as Comunidades InterMunicipais. Uma trapalhada,
com a qual nenhum governo até hoje, conseguiu lidar e organizar devidamente,
especialmente depois do chumbo do referendo de 1998 sobre as regiões.
O posicionamento
estratégico de Tomar deverá ser, no contexto da sua participação na Região de
Lisboa e Vale do Tejo, numa ligação preferencial ao maior centro urbano na sua
proximidade, a cidade de Leiria, e a otimização do corredor litoral, aberto com
o IC9, ligando o património ao mar e do corredor ibérico da A23, para acesso ao
maior mercado da península ibérica, a área metropolitana de Madrid.
16
- Fale-nos um pouco do seu percurso profissional e político, abordando a sua
experiência como deputada na Assembleia da República.
Iniciei o meu percurso
profissional em 1986 no Centro de Emprego de Torres Novas, como administrativa.
Entretanto em 1991 abriu um novo Centro de Emprego em Salvaterra de Magos,
projeto que considerei estimulante e que abracei. Regressei ao Centro de
Emprego de Torres Novas em 1999 e vim para o Centro de Emprego de Tomar em 2005
até 2009, com as funções de diretora, após o que fui eleita como Deputada pelo
PS, na Assembleia da República.
Aí integrei as Comissões
de Trabalho, Segurança Social e Administração Pública, Ética, Sociedade e
Cultura e a Comissão de Assuntos Europeus e mais recentemente as Comissões de
Orçamento, Finanças e Administração Pública e a Comissão de Economia e Obras
Públicas. Pertenci a um grupo de trabalho e fui coordenadora de outro grupo. Nos
cerca de 18 meses de atividade parlamentar, intervim em plenário por diversas
vezes e em matérias variadas. Mas a grande mais valia que recolhi da
experiência parlamentar, foi sem dúvida a capacidade de obtenção de
compromissos, fator essencial na prática legislativa e parlamentar.
Este
conhecimento, estes anos de experiência profissional, pessoal e política, conto
colocá-la ao serviço de Tomar e dos Tomarenses. Como mulher e mãe, julgo ser
essa a minha obrigação.